Creio que muitos de nós que vivemos aqueles dias nutrem pelo dr. Ulysses a mesma admiração que eu tinha e tenho pelo veterano homem público, um estadista sem ter tido o poder, um homem que certamente teria sido um grande presidente do Brasil, mas jamais alcançou esta meta.
Tenho muitas histórias minhas com o dr. Ulysses, em viagens que fizemos juntos pelo Vale do Paraíba, em momentos marcantes, como em Salvador, quando ele rompeu o cerco da PM baiana à sede do partido, no Campo Grande, erguendo aquele seu braço longo e imperativo e bradando: "Respeitem o presidente da oposição!" Os soldados surpresos pela coragem do velho deputado afastaram as baionetas e depois tiveram que ouví-lo dizer, da janela do prédio sitiado para a multidão embaixo que "baioneta não é voto e cachorro não é urna!"
Ulysses rompe o cerco policial à sede do PMDB da Bahia. Atrás dele está Tancredo Neves. Eu estava dentro do prédio porque cheguei horas antes, antes da PM.
Em Brasília também estivemos muitas vezes juntos. E cheguei a visitá-lo em sua casa, junto com os então deputados Audálio Dantas e Odacir Klein e suas esposas. Odacir disputava a liderança do PMDB e estava em São Paulo para uma série de eventos de sua campanha, que eu organizei por ordem de Audálio, de quem eu era secretário de Gabinete Parlamentar. Ninguém teria coragem de pedir o voto ao dr. Ulysses, figura que dominava a todos nós a uma certa altitude... Como presidente nacional, ele era neutro, embora como deputado fosse também um eleitor.
Ulysses e sua simpática esposa D. Mora. Ambos morreriam juntos na queda de um helicóptero.
Falou-se sobre tudo naquela noite, todos tomando um generoso uísque servido por Dona Mora, até que no meio de uma fala, como se fosse casual, Ulysses soltou a frase: "Vc vai enfrentar um líder muito hábil do lado da Arena, o Cantídio Sampaio é muito experiente e inteligente". A conversa voltou ao trivial. Ulysses nos conduziu até a porta de sua casa, entramos no carro e depois de alguns metros paramos. Espontaneamente, como se tivéssemos ensaiado, todos erguemos os punhos e gritamos: "Ganhamos!". Bastou aquela frase sutil do grande timoneiro para sabermos com certeza que Odacir seria o eleito, como foi. E Audálio foi seu vice-líder, substituindo-o muitas vezes com muito talento e lealdade.
Muita saudade do dr. Ulysses, que fazia política num patamar muito superior ao dos dias de hoje...
Se Ulysses fosse vivo, nenhum dos Poderes jamais abusaria de sua autoridade. Um Joaquim Barbosa jamais existiria em cargo decisório, pois Ulysses o detonaria publicamente, exigindo compostura. Ulysses não se acovardava nem diante da toga nem da farda.
A. Barbosa Filho
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