FOLHA ACREDITA TER MINADO DISCURSO DE AÉCIO
No editorial "O pouso do tucano", jornal diz que, ainda que tenha
sido feito de forma legalmente correta, aeroporto de Cláudio (MG)
"contradiz discurso de ética e eficiência administrativa"
27 DE JULHO DE 2014 ÀS 07:29
247 - O jornal Folha de S. Paulo, da família Frias, acredita ter
minado o discurso de ética e eficiência administrativa do
candidato tucano Aécio Neves, com a denúncia feita sobre o
aeroporto de Cláudio (MG). É o que o jornal sustenta em
editorial publicado neste domingo. Leia abaixo:
O pouso do tucano
Ainda que tenha sido feito de maneira legal na gestão de Aécio
Neves, aeródromo contradiz discurso de ética e eficiência
administrativa
O senador mineiro Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência
da República, dedicou boa parte dos últimos dias à tentativa de
justificar a construção de um aeródromo em Cláudio (MG), num
terreno desapropriado pelo governo do Estado durante a gestão
do tucano.
Revelado por esta Folha no último domingo, o episódio desde
logo chamou a atenção. Primeiro, porque as terras pertenciam
a Múcio Tolentino, tio-avô de Aécio e ex-prefeito de Cláudio.
Depois, porque o uso da pista de pouso, pronta em 2010,
dependia da autorização dos familiares do senador.
Com 1 km de comprimento e condições de receber aeronaves
turbo-hélice de pequeno e médio porte (até 50 passageiros),
o aeródromo custou R$ 13,9 milhões aos cofres públicos, sem
contar a indenização pela desapropriação. O valor oferecido
pelo Estado, R$ 1 milhão, é até hoje discutido na Justiça.
De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil),
a pista ainda não teve sua operação liberada ao público.
Mesmo assim, Fernando Tolentino, um dos filhos de Múcio,
afirmou que ao menos um avião a utiliza por semana.
Entre os usuários estaria o próprio Aécio Neves. Seu refúgio
favorito, a Fazenda da Mata, situa-se a 6 km dali. Nas
inúmeras explicações que deu ao longo da semana, o tucano
não confirma nem nega que tenha aterrissado em Cláudio.
O candidato também se eximiu de dizer por que as chaves
do local ficavam nas mãos de seus parentes.
Há mais, contudo. Nova reportagem desta Folha mostrou
que, em 2001, o tio-avô de Aécio sofreu o bloqueio judicial
da área onde está o aeródromo. O Ministério Público pede o
ressarcimento dos gastos na construção de uma pista de
pouso de terra em 1983, quando Tancredo Neves era o
governador mineiro, e Múcio, prefeito de Cláudio.
Para quem não podia dispor de parte das terras, a
desapropriação não chega a ser mau negócio. E a indenização,
paga com recursos de Minas, poderá ser usada por Múcio
para, caso seja condenado, quitar sua dívida com o governo
mineiro.
Diante desses fatos, soam no mínimo inverossímeis as
declarações de Aécio segundo as quais seus familiares não
teriam se beneficiado pela obra. Também caem em descrédito
as justificativas técnicas apresentadas pelo tucano.
Pela narrativa oficial, o aeródromo tem importância para as
indústrias locais, e a pavimentação da pista de terra
representava a opção mais econômica para o Estado.
Mais econômico, na verdade, teria sido não fazer obra nenhuma.
A demanda por voos em Cláudio é pequena, e o aeroporto de
Divinópolis fica a 50 km de distância.
Ainda que todo o processo tenha sido feito de maneira legal,
como sustenta Aécio Neves, restará uma pista de pouso
conveniente para o tucano e seus parentes, mas de questionável
eficiência administrativa. Não é pouca contradição para um
candidato que diz apostar na união da ética com a qualidade
na gestão pública.
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