Leio num artigo do jornalista Carlos Brickmann, sobre o falecimento do querido Antonio Maschio, ex-dono do restaurante Spazio Pirandello, que tanto frequentei nos anos 80. Não era apenas um restaurante como tantos outros que fervilhavam naqueles tempos de fim da ditadura e grande agito cultural. Prá começar, toda a sua mobília e decoração estavam à venda. Diziam que a casa tinha sido de Mário de Andrade, o que aumentava a atmosfera cultural do lugar - nunca cheguei a confirmar tal informação, mas o fato é que o Pirandello era ponto-de-encontro do pessoal de teatro, jornalismo e política, e das diversas tendências da esquerda. Ali tive meu último jantar com meu amigo Alberto Goldman, que depois viraria tucano e chegou a governador do Estado. Fui muitas vezes ou encontrei-me no local com o Audálio Dantas, a Bete Mendes, o Raúl Cortez e muitos outros. O Maschio criou uma banda de Carnaval, na qual eu saí algumas vezes, mas meio de longe, pois a minha era a Banda Redonda, do Bar Redondo, fundada pelo Plínio Marcos e presidida pelo meu querido amigo ator Carlão. Fiquei surpreso com a notícia da morte do Maschio, a quem eu esperava rever qualquer noite dessas numa parada qualquer em São Paulo. Ficam boas lembranças.
A notícia do Observatório de Imprensa:
O não jornalista – e que jornalista!
Este colunista o conheceu no Jornal da Tarde: Antônio Maschio, sempre barulhento, sorridente, feliz, era um dos grandes animadores da redação. Jornalista? Não: um promotor de cultura, um “agitador cultural”. Começou aparecendo na redação para divulgar peças, livros, eventos; acabou virando parte dela, palpitando, opinando, dando sugestões. E, na redação do JT, encontrou seu sócio: Vladimir Soares, o Frajola, repórter e redator de Variedades. Juntos, abririam um bar e restaurante que marcou São Paulo, o Spazio Pirandello.
Virou ponto de encontro, o Pirandello. Ali se reuniam artistas, jornalistas, estudantes, professores; escritores como Mário Prata e Ignácio de Loyola Brandão; a Turma das Diretas, com Osmar Santos, Caio Prado, Caio Fernando Abreu; Fernando Henrique Cardoso era presença constante. Ali foi um dos pontos de convergência da campanha das Diretas Já, que embora derrotada levou Tancredo Neves à Presidência da República.
Curiosamente, o Pirandello não sobreviveu à redemocratização do país. Maschio e Vladimir Soares seguiram cada um o seu caminho, sempre com brilho. Vlad escreveu um gostoso livro de reminiscências,Spazio Pirandello: assim era se lhe parece. Maschio foi fundador tanto do PSDB como do PT; mas escolheu os tucanos. E foi tucano até o final de sua vida, na semana passada, levado por complicações decorrentes de um câncer de pâncreas.
Já se disse milhares de vezes que o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis. A frase será repetida mais uma vez. Mas Antônio Maschio fará falta.
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