Jornalistas Ricardo Kotscho, Audálio Dantas,
Fernando Morais e Antonio Barbosa Filho (SP, 18/11/2013)
Fernando Morais: “Presos pagam uma condenação
a mais, a superexposição”
19 nov 2013/Por Equipe do Blog
Acompanhem a entrevista concedida ao blog pelo escritor Fernando Morais, que
condena a superexposição na forma como as prisões e deslocamentos dos presos
foram conduzidos. Sobre o julgamento, Morais é taxativo: “Estamos diante de um
tremendo erro judiciário”.
Fernando, qual sua análise do julgamento?
[ Fernando Morais ] Sempre fui muito pessimista em relação ao desfecho desse
processo. De todas as pessoas que estavam próximas do Zé Dirceu, do Genoino,
e de outros, eu sempre fui dos mais céticos, não acreditava que isso terminaria de
outra maneira. O desenrolar do processo indicava isso.
Agora, o que mais me surpreendeu nisso tudo é essa superexposição a que estão
submetidos os presos. Da forma como conduzem as prisões, os deslocamentos,
parece haver a nítida intenção de expô-los à execração pública. Da forma como
conduzem essas ações nada mais é do impor-lhes uma pena adicional a que eles
não estavam condenados.
No auge da perseguição que sofreu de Joseph Stalin na União Soviética, Trotsky
disse que “a pior das agressões a uma pessoa, a um cidadão, é expor-lhe a hu-
milhações, porque elas desarmam o indivíduo e o agridem no essencial de sua dig-
nidade”.
E mesmo com a saúde frágil do Genoino…
[ Fernando Morais ] Sem falar no Genoino, de quem não quero, não posso e não con-
sigo falar, ainda… Em qualquer parte do mundo um cardiopata como ele tem direito a
tratamento, assistência médica completa, a uma internação hospitalar, a uma alimen-
tação condizente com o seu estado. E eu li uma entrevista de uma das filhas dele di-
zendo que ele está comendo sanduíches, porque nem deixam a família levar-lhe comida.
Zé Dirceu e os demais desse processo são vítimas de um aberrante, um tremendo erro
judiciário. É sempre arriscado fazer avaliações políticas no calor dos acontecimentos,
embora esse julgamento, desde o início do processo, seja eminentemente político. Mas,
na hora que baixar a poeira, quando os ânimos serenarem, o Brasil descobrirá que nós
estamos diante de um tremendo erro judiciário.
Você atuou no documentário do Raimundo Pereira “AP470 – o julgamento medieval”.
[ Fernando Morais ] Sim, eu ajudei o jornalista Raimundo Pereira na pesquisa e na
elaboração do documentário “AP 470 – o julgamento medieval” (clique aqui e confira o vídeo).
Ali, com a obsessão do Raimundo pelo detalhe, pela minúcia, pela precisão, o erro judiciário
fica absolutamente claro. Ele prova e comprova a exaustão que o dinheiro público dessa his-
tória, os R$ 74 milhões da Visanet, que constituem o maior montante que, dizem, foi usado
no mensalão, na verdade foram empregados no pagamento de publicidade e patrocínios nor-
mais do cartão que se chamava Visa e hoje é Cielo.
No caso, a maior parte foi em pagamento de publicidade e de patrocínio às meninas do vôlei,
ao tenista Guga… E boa parte desse dinheiro foi para premiar gerentes do Banco do Brasil,
em bônus e prêmios porque como qualquer outro, o Banco do Brasil estabelecia cotas de
venda de cartões para seus gerentes e os bonificava, os premiava quando eles as atingiam.
A disparidade das penas também é outro dado que chama atenção. Por exemplo, Ramon
Hollerbach, ex-sócio do Marcos Valério, foi condenado a 29 anos, 7 meses e 20 dias de
prisão. O goleiro Bruno, do Flamengo, que mandou matar a namorada, esquartejá-la e dis-
tribuir seus restos aos cachorros, foi condenado a 22 anos de prisão. Isso dá bem a medida
do que é a justiça no Brasil.
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