Globo dá sinais de que, se farsa ruir, Barbosa é quem vai pagar a conta
por Helena Sthephanowitz publicado 21/11/2013 12:24,
Conquistada a condenação dos réus da Ação Penal 470, o
chamado mensalão, a Globo agora quer transferir o ônus do
golpismo para o STF, mais especificamente para Joaquim
Barbosa. Não parece ser por virtude, mas por esperteza, que
William Bonner passou um minuto no Jornal Nacional de
quarta-feira (20) lendo a notícia: "Divulgada nota de repúdio
contra decisão de Joaquim Barbosa".
O manifesto é assinado por juristas, advogados, lideranças
políticas e sociais repudiando ilegalidades nas prisões dos
réus do mensalão efetuadas durante o feriado da Proclama-
ção da República, com o ministro Joaquim Barbosa emitindo
carta de sentença só 48 horas depois das ordens de prisão.
O locutor completou: "O manifesto ainda levanta dúvidas sobre
o preparo ou boa-fé do ministro Joaquim Barbosa, e diz que o
Supremo precisa reagir para não se tornar refém de seu presi-
dente".
A TV Globo nunca divulgou antes outros manifestos em apoio
aos réus, muito menos criticando Joaquim Barbosa, tampouco
deu atenção a reclamações de abusos e erros grotescos cometidos
no julgamento. Pelo contrário, endossou e encorajou verdadeiros
linchamentos. Por que, então, divulgar esse manifesto, agora?
É o jogo político, que a Globo, bem ou mal, sabe jogar, e
Joaquim Barbosa, calouro na política, não. E quem ainda não
entendeu que esse julgamento foi político do começo ao fim
precisa voltar ao be-a-bá da política. O PT tinha um acerto de
contas a fazer com a questão do caixa dois, mas parava por aí no
que diz respeito aos petistas, pois tiveram suas vidas devassadas
por adversários, que nada encontraram. O resto foi um golpe polí-
tico, que falhou eleitoralmente, e transformou-se numa das maiores
lambanças jurídicas já produzidas numa corte que deveria ser su-
prema.
A Globo precisava das cabeças de Dirceu e Genoino porque, se
fossem absolvidos, sofreria mesmos derrota e desgaste que sofreu
para Leonel Brizola em 1982 no caso Proconsult, e o STF estaria
endossando para a sociedade a tese da conspiração golpista perpe-
trada pela mídia oposicionista ao atual governo federal.
A emissora sabe dos bastidores, conhece a inocência de muitos
condenados, sabe da inexistência de crimes atribuídos injusta-
mente, e sabe que haverá uma reviravolta aos poucos, inclusive
com apoios internacionais. A Globo sabe o que é uma novela e
conhece os próximos capítulos desta que ela também é protago-
nista.
Hoje, em tempos de internet, as verdades desconhecidas do
grande público não estão apenas nas gavetas da Rede Globo,
como acontecia na ditadura, para serem publicadas somente quan-
do os interesses empresariais de seus donos não fossem afetados.
As verdades sobre o mensalão já estão escancaradas e estão sen-
do disseminadas nas redes sociais. A Globo, o STF e Joaquim
Barbosa têm um encontro marcado com essas verdades. E a emis-
sora já sinaliza que, se ela noticiou coisas "erradas", a culpa será
atribuída aos "erros" de Joaquim Barbosa e do então procurador-
geral da República, Roberto Gurgel.
Joaquim Barbosa, homem culto, deve conhecer a história de Mefis-
tófeles de Goethe, a parábola do homem que entregou a alma ao
demônio por ambições pessoais imediatas. Uma metáfora parecida
parece haver na sua relação com a TV Globo. Mas a emissora pare-
ce que está cobrando a entrega antes do imaginado.
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