qui, 07/11/2013 - 06:00 - Atualizado em 07/11/2013 - 08:07
A manchete principal da Folha de S. Paulo de ontem é importante menos
pelas conclusões – incorretas – mais por demonstrar os riscos para a eco-
nomia dos velhos vícios da cobertura jornalística, de politizar de forma
acrítica os temas financeiros.
A manchete principal, bombástica, tratava da elevação do dólar.
Foi uma alta pontual, de 1,95%, refletindo um movimento internacional
de valorização do dólar em função da divulgação de indicadores da econo-
mia norte-americana. Um fato interno adicionou um pouco de caldo à es-
peculação: artigo do ex-Ministro Delfim Netto alertando para os ris-
cos de um rebaixamento na classificação do Brasil pelas agências de risco.
Foi apenas um alerta endereçado aos senadores sobre a temeridade de
aprovar o orçamento impositivo – pelo qual o governo seria obrigado a
honrar todas as emendas parlamentares.
A manchete da Folha, no entanto, colocava em xeque a credibilidade de
toda política econômica: “Desconfiança no governo Dilma faz dólar ter
forte alta”. Na matéria interna, falava-se em “disparada” do dólar e dizia-se
que era a maior alta desde... 6 de setembro – período de tempo ridículo.
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No mesmo dia, o jornal “Valor Econômico”, na matéria “Menos é Mais”
com gestores de fundos, informava que nenhum se arrisca a apostar
no dólar. Perderam muito nos últimos meses com a reversão da alta
do dólar. “O primeiro baque para os multimercados, diz, veio em maio,
com a quebra da expectativa de que o governo seria mais leniente com
a inflação”.
Principal porta-voz do Mercado, Armínio Fraga recuou na exposição ao
dólar: “A Gávea optou por reduzir o tamanho das posições e diver-
sificar bem a alocação nas três principais classes de ativos que com-
põem a carteira (moedas, juros e bolsa), em função das incertezas no
curto prazo”.
***
Ora, a gestão fiscal do governo tem produzido curtos-circuitos,
sim. A presidente Dilma Rousseff mantem em postos-chave –
na Fazenda e na Secretaria do Tesouro – pessoas tecnicamente
fracas. Tem-se, em ambos, um prato cheio para críticas consistentes.
São fracos, mas não são temerários. Quando o calo aperta, recuam,
como todo ser racional.
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Tome-se o informe econômico do Banco Itaú, divulgado ontem, sobre
a política fiscal.
Constata que o mero risco de piora da classificação de risco do
País já produziu ajustes de rumo.
Por isso mesmo, o Itaú aumentou sua previsão de superávit fiscal
primário em 2014 de 1,1% para 1,3% do PIB; projetou menor
crescimento das despesas de custeio para os próximos anos, manteve
a projeção de taxa de câmbio de R$ 2,35 para o final de 2013 e de
R$ 2,45 para 2014; constatou a gradual recuperação das receitas
tributárias, a desaceleração dos estímulos para fiscais e dos aportes de
recursos do Tesouro aos bancos oficiais.
Se o maior banco privado brasileiro aposta em recomposição fiscal, que
“mercado” é esse ao qual a Folha se refere?
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A intenção clara de parte da imprensa é apostar tudo ou nada no
caos, única circunstância capaz de viabilizar a candidatura moribunda de
José Serra – visto por alguns veículos como tábua de salvação.
Trata-se de um caso clássico de marcha da insensatez.
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