247 - A investigação contra o procurador Rodrigo de Grandis,
aberta pelo Conselho Nacional do Ministério Público (leia aqui),
conta agora com editorial da Folha de S. Paulo. Leia abaixo:
O trem tucano
Nas investigações sobre a CPTM, um escândalo engata-se
a outro, e a omissão das autoridades paulistas tem garantido
a impunidade geral
Tornam-se cada vez mais comprometedoras as notícias em torno
da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e seus
contratos milionários. As suspeitas incidem sobre sucessivos
governos tucanos no Estado.
O caso já é antigo, mas foi reavivado recentemente pela empresa
alemã Siemens, que, em troca de imunidade nas investigações,
levou às autoridades brasileiras documentos que indicam a
existência de um cartel no sistema metroferroviário paulista --
com a partilha de encomendas e elevação de preço das concor-
rências.
Ao menos seis licitações teriam sido fraudadas, segundo docu-
mentos internos da Siemens, que apontavam conluios durante as administrações de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
Diante das denúncias, o governador Alckmin não apenas anunciou
diligências --que se revelaram bem menos rápidas do que o
prometido-- mas também acentuou que, até aquele momento, não
havia indicações de participação de autoridades públicas no
esquema.
Pois bem. Enquanto se bloqueavam as tentativas de realizar uma
CPI sobre o escândalo, surgiram nomes de possíveis beneficiários
de propina no governo.
Outra empresa associada ao cartel, a francesa Alstom, vinha
sendo acusada de corromper governos em diversos países.
Documentos obtidos por autoridades suíças sugerem que João
Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM, teria recebido US$ 836 mil
(cerca de R$ 1,8 milhão) da Alstom.
Revela-se agora que, em 2011, as autoridades suíças pediam ao
Ministério Público brasileiro investigações sobre quatro suspeitos,
inclusive o próprio Zaniboni.
Nenhuma investigação foi feita, entretanto. E o motivo alegado
para a omissão é de molde a desafiar a credulidade até mesmo
dos mais ingênuos. É que o pedido vindo da Suíça foi arquivado
numa pasta errada. Assim declara o responsável pelas
investigações no Brasil, o procurador Rodrigo de Grandis.
Como esta Folha revelou no sábado, passados três anos, a Suíça
desistiu de prosseguir no caso; as suspeitas foram arquivadas.
Não bastassem as notórias dificuldades brasileiras para julgar,
condenar e aplicar penas aos suspeitos de corrupção, vê-se, no
caso Alstom, a intervenção de um fator acabrunhante: o engave-
tamento puro e simples.
Desaparece o pedido, perde-se o prazo, enterra-se o assunto,
reconhece-se a "falha administrativa". Que não fique por isso
mesmo, para que o trem tucano não prossiga até a muito conhecida
estação chamada Impunidade.
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