247 – Depois de revelado um diálogo entre membros do PCC
(Primeiro Comando da Capital) que demonstrava a insatisfação
da facção criminosa com o governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB), e o ameaçava de morte, alguns comentários
na imprensa foram na linha de que as críticas dos criminosos
serviram como uma "condecoração" para o tucano – essa palavra
em especial foi usada pelo colunista de Veja Ricardo Setti.
Se estavam insatisfeitos com Alckmin, é porque ele combatia a
criminalidade. Esse seria o raciocínio. A principal resposta do
governador, então, foi: "Não vamos nos intimidar", o que colocaria
ainda mais força e credibilidade à sua imagem. O governador
anunciou, dias depois, uma força-tarefa para investigar as ações
do PCC e a agilidade para cortar sinais de telefone de presídios –
algo que já deveria ter sido feito há muito tempo.
Uma declaração crucial do ex-secretário estadual de Segurança
Pública Antônio Ferreira Pinto, no entanto, desconstrói essa
recente suposta boa imagem adquirida pelo chefe de governo.
Em sua primeira entrevista desde que deixou o cargo e foi
substituído por Fernando Grella Vieira, há um ano, Ferreira Pinto
para colher dividendos políticos com a ameaça do PCC".
Segundo ele, a escuta de um dos membros do PCC que falava em
"decretar" o governador era de conhecimento da cúpula da
Segurança desde 2011 e não tem credibilidade alguma. "Esse
fato não tinha credibilidade nenhuma. A informação é importante
desde que você analise e veja se ela tem ou não consistência.
Essas gravações não tinham. Tanto que o promotor passou ao largo
delas. Eu não vejo uma coerência aí de alguém que exerce um cargo
público da relevância que é a segurança de São Paulo", declarou.
Para Ferreira Pinto, a mesma "fanfarronice" atribuída à declaração
de Marcola, líder do PCC, de que a facção havia diminuído a taxa
de homicídios no Estado - o termo foi usado pelo próprio governador,
e Ferreira Pinto concorda - serve para a fala do outro, que disse que
ia "decretar" – na gíria, matar – Alckmin. "Foi no mesmo contexto,
em 2011. Aí vem o governo e diz 'Não vou me intimidar'. Ele está
aproveitando para colher dividendos políticos", conclui.
O ex-secretário também afirmou que "tinha plena ciência" dessas
gravações e que o governador não sabia da existência delas
justamente porque o fato "não tinha credibilidade". "Lamentável.
[O governador] deve ter suas razões. Eu acho que é mais pelo
viés político. Porque na hora que diz 'Não vou me intimidar', ele
está também dando um "upgrade" para a facção. Está admitindo
que há credibilidade numa conversa isolada".
Segundo ele, a resposta de Geraldo Alckmin seria válida se o
Ministério Público tivesse alguma gravação "em que realmente o
governador estivesse sendo ameaçado de morte". Mas o MP não
usou da interceptação "porque analisou", segundo Ferreira Pinto,
"e viu que era uma declaração irresponsável". "É como alguém dizer
aqui, 'Ah, vou matar o Obama'", exemplifica.
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