Por Tão Gomes Pinto_247 - Se há um nome no Brasil que é
sinônimo de petróleo e de Petrobras, trata-se de Shigeaki Ueki.
Ministro de Minas e Energia do governo de Ernesto Geisel, de
1974 a 1979, e presidente da Petrobras de 1979 até 1984, ele
foi responsável por lançar a companhia ao mar. Ueki conseguiu,
mesmo com forte oposição dentro e fora do governo, fazer com
que Geisel assinasse o decreto abrindo a Petrobras para empresas internacionais, através dos Contratos de Risco. Foi ele quem
anunciou a primeira descoberta de petróleo no litoral do Rio de
Janeiro no dia 3 de janeiro de 1975, sendo considerado o pai da
Bacia de Campos. Desde então, é um insistente defensor da
exploração da plataforma submarina e um dos mais respeitados
nomes do setor de energia no mundo. Foi nessa condição que
falou, com exclusividade ao 247, no mesmo dia em que o leilão
de Libra foi criticado por publicações internacionais, como
Economist e Financial Times (leia
aqui), e também pela ex-
senadora Marina Silva. Leia abaixo sua entrevista exclusiva:
247 - O Leilão de Libra foi um bom ou mau negócio para o Brasil?
Shigeaki Ueki - Foi um grande negócio para o Brasil. O que nós
chamamos de negócio da China. As condições impostas foram
uma das mais onerosas. Logo, os interesses nacionais estão
salvaguardados. Bônus, porcentagem de partilha, royalties, imposto
de renda, etc. Sobrou uma margem estreita. Mas o Campo de Libra
é tão atraente que a Shell, a Total e as empresas chinesas
resolveram investir. Creio que há três grandes desafios. E uma
variável difícil de prever.
247 - Quais os desafios?
Ueki - Na atual conjuntura, o suprimento financeiro é um grande
desafio. É um projeto de capital intensivo mas o consórcio
constituído garante esse equilíbrio. Já o desafio tecnológico, está,
na minha opinião, também muito bem equacionado. Petrobrás /
Shell / Total, caro Tão Gomes, esse é um time de campeões. A
Shell foi pioneira em águas ultraprofundas e a Total, com apoio
de várias instituições de pesquisa francesas, igualmente, é pioneira
em exploração offshore. Muitos engenheiros da Petrobrás, na minha
época, estudaram na França. O terceiro desafio é o mais problemático:
por ser capital intensivo, o custo financeiro onera muito o custo final
do barril produzido.
247 - E por que as chamadas “grandes petroleiras” desistiram do
leilão?
Ueki - Se o consorcio tivesse parceiros membros da OPEP seria um
desastre, porque eles procurariam produzir do pré-sal talvez no século
22. Isso se o petróleo e gás natural ainda tivesse mercado. Se fossem
as grandes – as chamadas “majors” americanas, como a Exxon, Mobil,
Chevron, etc.- eu também ficaria preocupado. Elas aumentaram significativamente a produção de petróleo e gás natural do xisto e os
Estados Unidos, que eram os maiores importadores, têm possibilidade
de passar a ser exportador. Ora, para eles, quanto mais tarde o petróleo
do pré-sal for produzido, melhor.
247 - E qual a variável difícil de prever?
Ueki - A variável difícil de prever é quanto ao preço do petróleo quando começar a produzir. Vai depender do crescimento da economia mundial,
fontes alternativas competitivas, etc. Aí está o grande risco. Por isso,
é muito melhor desenvolver em parceria do que a Petrobras atuar
sozinha. Eu acho que o governo do PT defender exploração via partilha
ou concessão, é um avanço ideológico muito grande.
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