247 - André Singer, colunista da Folha e ex-porta-voz de Lula, vê
muita espuma e pouca consistência programática na aliança entre
Eduardo Campos e Marina Silva. Leia, abaixo, sua análise:
Espuma
A principal virtude da decisão de Marina Silva de se filiar ao PSB foi
a de ser inesperada. Ao fazer o surpreendente lance, a ex-senadora,
que já vinha ocupando o centro da cena com o registro da Rede,
continuou a dominar o noticiário. Mas, passado o efeito surpresa, o
que restará?
O aspecto engenhoso da solução encontrada por Marina para o
impasse em que se encontrava foi que, quando todos esperavam
uma definição, manteve o suspense.
Registrando-se em agremiação que já tem candidato, ela não precisa
definir agora se vai concorrer. Mais ainda: declarando apoio, em
princípio, a Eduardo Campos, protege-se da acusação de ter aderido
ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) só para se candidatar, o que
estaria em flagrante contradição com a proposta de renovar os
costumes políticos nacionais.
O pequeno, mas óbvio, detalhe que torna a construção pouco crível
é que, para apoiar Campos, a líder da Rede não precisava ter se
filiado ao PSB, bastando indicá-lo como postulante preferido à
sucessão de Dilma Rousseff. A matrícula só existe para deixar aberta
a possibilidade de ser ela mesma candidata. Para tanto, Marina
arriscou a própria razão de ser do importante movimento renovador
que dirige, o qual já começa em fusão com uma legenda tradicional.
Eduardo funciona como biombo ideal para a candidatura de Marina,
deixando-a em uma conveniente redoma até que as massas de classe
média, na forma das pesquisas de intenção de votos, exijam que
assuma, no primeiro semestre de 2014, a cabeça da chapa para
"salvar o Brasil". Por que, então, teria o matreiro governador de
Pernambuco aceito o negócio?
O pernambucano deve ter avaliado que o risco valia a pena. Afinal,
a jogada de Marina também o projeta ao primeiro plano dos meios
de comunicação. Ainda pouco conhecido fora do seu Estado, o neto
de Arraes precisa de exposição. Afora isso, com o respaldo da Rede,
ele penetra em um eleitorado que, além de ser nacionalizado, é jovem,
o que lhe garante longo futuro.
Chegado o momento de decidir, se verá o que acontece, terá pensado
Campos --que, por ser também jovem, pode-se dar ao luxo das
experiências. Até a de ser vice em 2014.
Com o objetivo de salvar a cara de seu partido, do qual ainda se
espera uma contribuição consistente ao Brasil, Marina insiste em
que a união é programática. Mas nem ela nem Campos são capazes
de enunciar uma linha sequer do programa comum, pela simples razão
de que ele não existe.
Quando a espuma baixar, vão aparecer apenas dois candidatos,
coabitando uma única sigla. Mas, até lá, terão sido, ambos,
personagens de longa e proveitosa novela.
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