247 – Blogueiro de Veja.com, Reinaldo Azevedo estreou nesta sexta-feira 25 sua coluna no
jornal Folha de S. Paulo e, por extensão, na Folha.com. Imediatamente, a crise se instalou na
publicação.
Sempre desfraldando a bandeira de ser um jornal democrático, a Folha precisou bloquear
temporariamente a área de comentários para a coluna de Reinaldo como única forma de conter
a fúria dos leitores. Em Veja, como se sabe, o colunista conta com um filtro – ele mesmo – que
não permite a postagem de comentários de oposição a seus artigos. Na Folha, já foi reaberta,
após a publicação deste artigo no 247. Eis alguns comentários:
Caricato , veste um personagem , polemista profissional , atrasado , por ele os escravos
ainda seria escravos ( e portanto aptos a serem cobaias) homossexuais seriam
discriminados , mulheres não votariam . Energumeno de grosso calibre , veio emporcalhar
as páginas da FOLHA . Escrevam pra Ombudsman Suzana Singer dizendo que vão
CANCELAR a assinatura da FOLHA .
Sou assinante a mais de 20 anos da folha, por gentileza me faça um favor saia da folha
antes que eu cancele minha assinatura. Por gentileza faça esse favor saia da folha
O novo colunista da Folha tem admiradores e detratores, estes, em geral, apoiadores do
governo, lulo-petistas, comunistas ou socialistas, alguns inteligentes, de argumentos mais
sólidos; outros, muitos outros, nem tanto! Considero-o um sucessor de José Guilherme
Merquior, capaz de contrapor-se, muitas vezes, com vantagem a polemistas esquerdistas de
peso. Bela aquisição da Folha; melhor para o debate democrático.
Hoje mesmo já vou cancelar minha assinatura. Pior escolha trazer esse Sr.para o rol de
colunistas do jornal. Seu grau de esquizofrenia é acentuado! TODOS seus textos citam o
PT. Aliás, creio que a solução do Brasil é muito simples para esse indivíduo: basta eliminar
o PT e estaremos salvos de tudo; o Brasil deixará de ser um país desigual, passaremos a
viver em bairros devidamente saneados e arborizados, com segurança, educação e civilidade.
Que fantástico!Mas aí, sobre o que ele escreveria, né!
Em seu blog, a influente jornalista Cynara Menezes, ex-Folha e hoje em Carta Capital, escreveu
artigo em que anunciou o cancelamento de sua assinatura da Folha de S. Paulo em protesto
contra a presença, em suas páginas, a partir de agora, de Reinaldo. Ela o classificou como um
"reacionário" que marca a publicação com o que a direita brasileira tem de mais arcaico.
Entre os jornalistas da Folha, o mal-estar é geral. O diretor de redação do jornal, Sergio D'Ávila,
tentou convencer Otavio Frias Filho de que a contratação não pegaria bem para uma publicação,
como a Folha, que se diz plural e apartidária. Mas, naquele momento, Otavio mostrou quem é
patrão.
As reações pelo desastrado movimento devem continuar, o que levanta desde já uma pergunta
que não quer calar: para a Folha, contratar o conhecido blogueiro, que usa o codinome
'Reinaldoxx, o exterminador de petralhas' para deletar comentários em seu blog de Veja, foi
uma boa ou foi mesmo uma fria? Se há leitores realmente dispostos a cancelar suas assinaturas,
o jornal já saiu perdendo. Até porque seus admiradores poderão ler as colunas em Veja.com,
uma vez que são republicadas pelo próprio Reinaldo.
Abaixo, artigo de Cynara Menezes
Caí de amores pela Folha de S.Paulo aos 17 anos, em 1984, quando
entrei na faculdade e o jornal apoiou a campanha pelas Diretas-Já.
Até então, menina do interior da Bahia, não conhecia bem a grande
imprensa. O jornal que estampava em sua primeira página o desejo
de todos nós, brasileiros, de votar para presidente, me cativou. Como
para vários da minha geração, trabalhar na Folha se tornou um sonho
para mim.
E de fato trabalhei no jornal, entre idas e vindas, quase 10 anos.
Tive espaço, ótimas oportunidades, conheci de perto figuras incríveis:
Ulysses Guimarães, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Leonel Brizola,
Lula. E principalmente: na Folha escrevi como quis –ninguém nunca
mudou meu texto e jamais adicionaram nem uma frase sequer que
eu não tenha apurado, ao contrário do que viveria nos oito meses
que passei na Veja (leia aqui).
Em 2009 meu respeito pela Folha morreu. Naquele ano, o jornal
tentado estuprar um companheiro de cela, um certo “menino do MEP”
(antiga organização de esquerda), quando esteve preso, em 1980.
Qualquer pessoa que lê o texto percebe que Lula fez uma brincadeira
(de mau gosto, ok), mas o autor do artigo não só levou a sério, ou
fez de conta que levou a sério, como convenceu o jornal a publicar
aquele lixo.
Como eleitora de Lula, aquilo me incomodou. Por que nunca fizeram
algo parecido com outro político? Por que o jornal jamais desceu tão
baixo com ninguém? Apontar erros, incoerências, fazer oposição ao
governo, vá lá. Dizer que Lula estuprou uma pessoa! Por favor. Me
pareceu que alguém na direção do jornal estava sob surto psicótico
ao permitir que algo assim fosse impresso. Vários amigos da Folha
me confidenciaram vergonha e indignação com o texto.
Continuei a ler o jornal nestes últimos quatro anos mais por hábito
do que por outra coisa. Quando veio o editorial em que a ditadura foi
chamada de “ditabranda” não fiquei surpresa. Quando a Folha publicou
a ficha falsa da candidata Dilma Rousseff no DOPS quando atuou na
luta armada, tampouco. A minha própria ficha já tinha caído, lá atrás.
O jornal a favor das Diretas-Já deixara de existir –ou será que nunca
existiu? Afinal, antes disso a Folha havia apoiado o golpe militar. Terei
eu caído num golpe –de marketing?
Hoje, 24 de outubro de 2013, tomei a iniciativa de cancelar minha
assinatura da Folha de S.Paulo. O jornal acaba de contratar dois dos
maiores reacionários do País para serem seus “novos” colunistas.
Não é possível, para mim, seguir assinando um jornal com o qual
não tenho mais absolutamente nenhuma identificação. Pouco
importa que minha saída não faça diferença para o jornal: é minha
grana, trabalho para ganhá-la, não vou gastá-la em coisas que não
valem a pena. O mundo não é capitalista? Pois não quero, com meu
dinheiro, ajudar a pagar gente que me causa vontade de vomitar.
O mais triste é que, ao deixar de assinar a Folha, deixo também de
ler jornais impressos. Nenhum deles me representa. Esta é literalmente
uma página que viro, dá a sensação de que perdi um amigo querido.
Mas a vida é assim mesmo: às vezes amigos tomam rumos diferentes.
Sem rancores.
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