sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

LEMBRE-SE QUE A MÍDIA É GOLPISTA DESDE 1954. INFORME-SE! (I)

O oposicionismo impresso e a urgência da democratização informativa

Imagine se o governo Dilma e as forças políticas que o apoiam priorizassem, de verdade, uma política de democratização da comunicação no Brasil.





Beto Almeida (*)
Arquivo

No finalzinho de 2013, o jornalista Eugenio Bucci, editorialista do Estadão, escreveu artigo rejeitando a tese que considera a  atuação da mídia comercial brasileira hoje, a imprensa em particular,  como “um partido de oposição”. O texto de Bucci  já recebeu brilhante crítica do jornalista e professor Gabriel Priolli, publicada no Viomundo. Como o tema é muito vasto, além dos argumentos cristalinos levantados por Priolli,  os quais endosso, cabem outros olhares.

Pode-se dizer que há vários pontos de contatos entre os argumentos de Bucci com os da ex-presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith Brito, que, em 2010, contrariando o editorialista do Estadão, analisando,  de forma bem direta o desempenho da imprensa, confessou:“obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo [Lula]”.
 
 
Ao contrário de Judith, para tentar provar que a imprensa no Brasil não atua como um partido político, Bucci recorre ao caso venezuelano, quando, em 2002, um golpe de estado, organizado nas dependências de uma das maiores redes de tv local, tirou Chávez do poder por 47 horas, sequestrando-o, preparando, inclusive, sua eliminação física, o que apenas não ocorreu face o levante cívico-militar em defesa da democracia. Chávez voltou nos braços do povo e foi reeleito mais duas vezes. Mas, as conclusões de Bucci sobre esta experiência são curiosas. Ele afirma que “se os meios de comunicação tivessem passado a operar como partido unificado, com o intento de sabotar a administração pública, o que nós teríamos no Brasil seria um abalo semelhante ao que se viu na Venezuela em 2002”.  A história nos ajuda a lançar argumentos neste interessantíssimo e grave debate, que, certamente, não terá acolhida plural nas páginas do Estadão.

Petrobrás: atacada desde o seu nascedouro

Partindo do princípio que o exercício de crítica à imprensa é imprescindível e democrático, tanto quanto o direito dos meios de criticar os governos e suas políticas, vale ressaltar que não há absolutamente nenhum cerceamento ao trabalho dos meios que, como afirmou Judith Brito, estão fazendo a “posição oposicionista neste país”. Mas, vale lembrar também no dia em que o Presidente Vargas sancionou a criação da Petrobrás, o Estadão publicou editorial sustentando que era uma loucura criar uma empresa estatal de petróleo num país em que, sabidamente, dizia o texto, não havia petróleo. O problema todo era a opção por uma empresa estatal.  Como classificar uma posição editorial como esta, com plena sintonia com a oposição estrangeira e a oposicionista interna à criação da Petrobrás? Era uma crítica jornalística ou era uma oposição ideologicamente cega ao nacionalismo de Vargas?

Mas, esta oposição editorial sistemática já havia se expressado,  muito especialmente,  durante a fase em que o governo Vargas regulamentou os direitos trabalhistas e pela primeira vez os trabalhadores passam a ter uma carteira de trabalho, o emprego formal, jornada de trabalha delimitada, descanso semanal, férias, conquistas que sempre, sempre foram afrontadas pelo pensamento oligárquico exalado pelo Estadão. Era uma crítica jornalística normal ou uma defesa intransigente da tese de todo direito ao capital e nenhum direito ao trabalho?

Também é preciso lembrar que aquilo que Bucci reconhece ter ocorrido na Venezuela, a quartelada mediática, já havia ocorrido aqui no Brasil. Primeiramente, em 1954, quando os jornais, rádios e a iniciante televisão  -  com sustentação financeira dos anúncios de empresas transnacionais  -  juntaram-se num grito-campanha de denúncias contra o suposto e nunca provado  “mar de lama de Vargas”, resultando no dramático suicídio presidencial. A fúria popular fez os golpistas recuarem, , mas, por apenas  10 anos. Até mesmo o jornal Tribuna Popular, do PCB,  que naquele traumático dia 24 de agosto de 1954 publicava uma entrevista de Prestes pedindo a renúncia de Vargas, tal como todos os demais jornais, à exceção do Última Hora, foi alvo do legítimo e espontâneo sentimento popular, com os dirigentes comunistas mandando recolher, às pressas, os jornais das bancas. 

Censura atinge até a Carta Testamento de Vargas

Apesar da gigantesca manifestação popular de apoio a Vargas, os que tramaram o golpe, conseguiram o cúmulo de censurar novas leituras radiofônicas da Carta Testamento de Vargas, um dos principais documentos da História do Brasil!,  pois um dispositivo militar da Aeronáutica ocupou a Rádio Nacional.  Assim, é assustador ler Bucci afirmar que “no Brasil não houve nada parecido”. Não houve uma sabotagem contra a administração pública? Aqui o presidente Vargas suicida-se, lá na Venezuela o presidente Chávez, igualmente eleito pelo voto popular, é sequestrado e permanece preso por 47 horas, até que o levante popular e militar democrático derrota os golpistas.

 
Aqui, na madrugada de 24 de agosto de 1954, na reunião do Catete, Tancredo Neves, jovem ministro da justiça de Vargas, havia proposto a resistência, inclusive armada, se preciso fosse, lembrando a Vargas que , em outubro de 1930, ele  mesmo havia sido protagonista de um levante popular armado. Vargas preferiu o sacrifício. Gesto que inspirou o belo livro “O dia em que Getúlio Vargas matou Allende”, de Flávio Tavares, que testemunhou uma conversa entre Mao Tsé Tung e o então senador Salvador Allende, em Pequim, sobre Vargas. Em 1973, Allende preferiu resistir em La Moneda, cumprindo a profecia de Vargas que dissera “Só saio do Catete morto!” Chávez, em 2002,  orientado telefonicamente por Fidel, optou, corretamente,  por não se imolar e sim, ganhar tempo, contando  com a resistência democrática, militar e povo, unidos em defesa do governo legítimo. Brizola, na primeira tentativa de golpear a Goulart, mobilizou o povo, distribuiu armas na praça e organizou a Campanha da Legalidade, em 1961. Um gesto para a história, com bravura tal que fez recuar os golpistas. Muito ainda devemos  refletir e aprender daquele indomável Brizola com uma metralhadora no ombro e um microfone nas mãos! 
CONTINUA
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/O-oposicionismo-impresso-e-a-urgencia-da-democratizacao-informativa/12/30024

Um comentário:

  1. A Veja está repleta de exemplo antigos de que se comporta contra determinada visão política.
    http://partidodaimprensagolpista.blogspot.com.br/

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