Em recente encontro promovido pelo Centro Barão de Itararé, conversei longamente com o grande jornalista Beto Almeida.
Jornais apoiaram golpes contra Vargas e Jango
Dez anos depois, em 1964, o golpismo se lançou contra o presidente João Goulart, que havia recebido a Carta Testamento de Vargas, seu herdeiro político preferido, e, por isso mesmo, odiado até a medula pelo Presidente Kennedy - que preparou o golpe, embora incensado como democrata até hoje - pela cúpula militar e pelos capitalistas do campo e da cidade. Uma vez mais, o golpe recebe apoio disciplinado da mídia, com o apoio de recursos financeiros distribuídos pelos organismos inventados pela Cia para comprar parlamentares, sindicalistas, jornalistas e jornais. Foi o ex-presidente Tancredo Neves quem denunciou que a Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, mais agressivo crítico de Goulart, recebera recursos financeiros da CIA para desestabilizar o governo. Desestabilização da qual fez parte também o Estadão, que publicou o artigo aqui comentado, que tenta naturalizar e eximir de golpismo a oposicionismo impresso.
.
Como é que “no Brasil não houve nada parecido”? Nós fomos pioneiros, os golpes contra Chávez e Allende vieram depois. Contra Jango, não foi apenas apoio ao golpe, com editoriais demolindo a imagem de um presidente que possuía 73 por cento de popularidade e pedindo, diariamente - basta pesquisar - a intervenção militar para derrubar este presidente, instalando uma ditadura de 21 anos, mas que ainda deixou seus entulhos autoritários por aí. Foi mais que isto: um governo estrangeiro, EUA, enviou dinheiro, agentes, combustível, navios e armas para derrubar um governo democrático, Kennedy sugeriu uma invasão militar, Lyndon Jhonson cumpriu a cartilha, e este golpismo foi totalmente apoiado pelos jornais, entre eles o Estadão. Como é que no Brasil não houve nada parecido? Já houve, em 1954, em 1964, e há, na atualidade, a mesmíssima sintonia editorial para demolir os governos petistas e seus programas. Senão, vejamos: tal como contra Jango, os jornais não falavam abertamente em golpe militar - só quando este sinal veio da Casa Branca - agora , também, os jornais não se confessam desestabilizadores dos governos petistas. Mas, o que estão fazendo é muito diferente de ser apenas jornalismo crítico. A Judith Brito tem razão quando confessa: os meios fazem o papel da oposição que , segundo ela, estaria enfraquecida.
Enfado de governar?
Bucci sugere que “as forças instaladas no governo, como que enfadadas do ofício de governar, começaram a fazer oposição à imprensa”. Seria o governo petista, que até o momento manteve intacta prática de milionária destinação de verbas publicitárias para a mídia em geral que lhe faz oposição, que estaria fazendo oposição à mídia, e não o contrário? Esta prática, segundo o texto em análise, decorreria de um enfado com o exercício do governo. Como estariam enfadadas as forças governistas se conseguiram, com seus programas sociais, retirar milhões de pessoas da faixa de extrema miséria, reduzir a desnutrição e o trabalho infantil, como reconhecem a UNICEF e a OIT, ampliar o mercado de consumo, como mostra a CEPAL, criar milhões de emprego com carteira assinada, recuperar a indústria naval demolida na Era da Privataria? Será motivo de enfado ter mudado o perfil da universidade brasileira, por exemplo, a ponto que hoje a UnB possua 40 por cento de matrículas de negros?
Pesquisa realizada pela BBC apontou o Brasil como o sétimo país mais popular do mundo, à frente dos EUA, que ficam em oitavo lugar, enquanto numa outra enquete, realizada em 48 países, ficou constatado haver “o sonho internacional de morar no Brasil”, único país latino-americano e dos Brics a ser escolhido pelos entrevistados como destino. Realmente, deve ser muito enfadonho governar um país como este, sendo esta a razão para “a oposição do governo à imprensa”.
Dilma Roussef, assim como Lula, demonstra seu elevado compromisso democrático, sem qualquer retaliação ao jornalismo oposicionista sintonizado com o discurso dos partidos oposicionistas. O que não impediu a presidenta de processar jornalista da Folha de São Paulo, que publicou em destaque, na capa, uma ficha falsificada como prisioneira no Dops, onde foi torturada no regime militar, apoiado também pelo Estadão. Mas, neste caso, nem estamos falando de jornalismo, mas de fraude, falsificação, é uma outra esfera das nossas leis, né?
Quem estaria desanimado?
Bucci afirma que a crítica ao oposicionismo da imprensa teria por finalidade “inflar o ânimo dos militantes de baixo e para inflar o ego dos militantes de cima”. Será mesmo verdade que o partido que elegeu por três vezes o presidente da república, elegeu a primeira presidenta da história do Brasil, que manteve ao longo destes 11 anos uma robusta popularidade, que lidera as pesquisas eleitorais para o próximo pleito e que foi apontado pelos eleitores como o partido de maior preferência nacional (mais de 30 por cento), em níveis muito acima do segundo colocado, o PMDB, com 6 por cento, precisaria mesmo inventar um discurso artificial, de oposição à imprensa, para conseguir os objetivos fixados no texto, com uma boa dose de imaginação anti-petista?
Segundo Bucci, o discurso das forças governistas é autoritário e fanatizante e “está assentado em bases fictícias, completamente fictícias”. Será? Os governos petistas organizaram o programa Luz para Todos, permitindo que milhões de brasileiros conhecessem a luz elétrica somente em pleno século 21, mas os benefícios nada fictícios desta política têm sido desconstruídos pela imprensa oposicionista. Como parte do debate democrático, as forças governistas questionam, legitimamente, este modo de cobrir os fatos, o que é logo encarado pelo artigo em exame como “discurso autoritário e fanatizante”.
Mais Médicos, menos jornalismo
O mesmo Estadão, em editorial, chegou ao ponto de reduzir o Programa Mais Médicos, que possui elevada aprovação da população mais pobre, a uma caricatura intitulada “Mais Cubanos”, acusando, sem fundamentação alguma, que o seu único objetivo seria o de financiar Cuba. Com isto, ignora-se, deliberadamente, o altíssimo conceito internacional que a saúde cubana goza em escala internacional, em instituições como a ONU, a OMS, a OPAS, e, também, pela eficiente presença solidária de seus profissionais de saúde, junto com suas vacinas, em mais de 70 países em todo o mundo. Talvez seja este exatamente o problema: junto com os médicos cubanos, instala-se um modelo mais eficiente de medicina pública, de filosocia social e solidária, com médicos que não são apenas Office-boys da indústria de equipamentos médicos e farmacêutica. Por detrás da rejeição irracional e agressiva de entidades médicas brasileiras aos médicos cubanos, rejeição que atingiu as raias do criminoso racismo, desponta-se o medo da indústria de medicamentos ante a possibilidade de expansão de acordos entre laboratórios estatais de Cuba e do Brasil, para a produção de vacinas destinadas realmente a uma política pública de saúde em escala internacional, o que ameaça os incalculáveis lucros daquela indústria oligopolista transnacional, vocalizada pelos médicos brasileiros. Brasil e Cuba selaram importantes acordos nesta área de saúde para atuação parceira e solidária no Haiti, na África (vacinas cubanas produzidas no Bio-Manguinhos custam 90 por cento menos que as das transnacionais) e também no Timor Leste. Estas informações nunca são difundidas pelo oposicionismo impresso, impedindo seus leitores de uma correta compreensão sobre as políticas públicas do setor, o que justifica uma queixa democrática por parte das forças governistas, o que nada tem de fanatizante ou autoritário. Ou não são informações relevantes estes acordos entre Brasil e Cuba?
Há muitos exemplos a elencar, sobre a prática do oposicionismo impresso e seu distanciamento da boa técnica jornalística, entre eles o daquele super noticiado surto da febre amarela que não ocorreu, o confisco da poupança que não se deu etc. Mas, tem sido no plano econômico um dos esforços mais concentrados do oposicionismo impresso para apresentar a economia brasileira como em derrocada generalizada. Critica-se o Pibinho, quando os baixos PIBs dos Eua e da França, com crescimento zero, causaram desemprego de trabalhadores brasileiros em filiais de empresas estrangeiras aqui, quando, no Brasil, o nível de emprego vem mantendo-se elevado, sendo praticamente algo próximo ao pleno emprego.Enquanto o desemprego se alastra pela Europa, o trabalho infantil cresce nos estados unidos, aqui, o emprego formal avança e os direitos trabalhistas da Era Vargas, são mantidos e expandidos como na lei da trabalhadora doméstica e no aumento da licença maternidade.
CONTINUA...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são bem-vindos, desde que não contenham expressões ofensivas ou chulas, nem atentem contra as leis vigentes no Brasil sobre a honra e imagem de pessoas e instituições.