Até outro dia, Dilma Rousseff tinha liderança folgada nas pesquisas e poderia ganhar já no primeiro turno, Aécio Neves era o candidato do PSDB escalado para perder e Marina Silva estava sem partido para entrar no jogo.
De repente, com a inesperada jogada de Marina de se oferecer ao PSB de Eduardo Campos para acabar com a "polarização PT-PSDB", a mais agitada semana da pré-campanha presidencial chega ao fim com o quadro sucessório absolutamente em aberto. Com as definições no campo da oposição adiadas para 2014, nem se sabe ainda quem serão os candidatos de oposição a Dilma.
Par acabar com a crise que começava a se instalar entre marineiros e socialistas sobre quem seria o candidato a presidente, apressaram-se Eduardo e Marina, dois ex-ministros do governo Lula agora na oposição, em dar uma entrevista coletiva nesta quinta-feira em São Paulo para anunciar que só vão definir o cabeça de chapa no próximo ano, depois de afinar um programa comum entre a Rede e o PSB.
A maior reviravolta provocada pela chapa Eduardo-Marina, ou vice-versa, acabou acontecendo no campo do PSDB, onde tudo parecia definido depois que Fernando Henrique Cardoso, ainda no ano passado, lançara a candidatura de Aécio Neves, que logo conquistou o apoio da maioria do partido.
Animado com a mudança do cenário eleitoral, o eterno candidato José Serra resolveu ressuscitar e voltou com tudo, ao garantir ter recebido de Aécio a promessa de que o nome tucano para disputar a sucessão de Dilma só será definido em março ou abril do próximo ano. Esta teria sido a condição de Serra para ficar no PSDB, depois de ameaçar debandar para o PPS. Vai começar tudo de novo no ninho tucano, como já vimos nas últimas três campanhas, em que a Serra levou até o último minuto o suspense sobre a candidatura do partido, enquanto os adversários já corriam o país atrás de votos e alianças.
O fato é que o ex-governador paulista voltou a viajar pelo país, fazer discursos como candidato, frequentar eventos ao lado do governador Geraldo Alckmin e ocupar espaços na mídia, enquanto Aécio sumia do noticiário. O resultado desta indefinição é o PSDB ser até o momento o único partido grande que não conseguiu fechar aliança alguma, nem com o PPS de Roberto Freire e o DEM, suas tradicionais forças auxiliares.
Do lado do PT, o ex-presidente Lula, que manteve uma reunião de cinco horas com Dilma em Brasília para discutir o novo cenário, finalmente se convenceu de que Eduardo Campos não só será mesmo candidato como fará uma campanha abertamente de oposição aos governos do PT. E recomendou ao comando da campanha de Dilma que como tal deve ser tratado.
No programa político do PSB exibido na noite de ontem, Eduardo prometeu "abandonar as velhas práticas políticas", afirmando que "o governo já deu o que tinha que dar", e Marina prometeu "sepultar a Velha República", mas sem a abrir mão dos poderosos grupos econômicos que a apoiam e ontem foram levados para uma reunião com o governador pernambucano.
Até o mês passado aliado da presidente Dilma, Eduardo só não explicou como vai abandonar estas velhas práticas tendo a seu lado a família Bornhausen e Heráclito Fortes, depois de buscar o apoio de Ronaldo Caiado, o antigo líder da UDR, que acabou sendo rifado pela entrada de Marina no barco socialista.
Como Dilma e Lula fizeram no programa do PT, Eduardo e Marina apresentaram um jogral na segunda parte do programa, com os muitos elogios mútuos trocados no lançamento da "Coligação Democrática" no último sábado, em que procuraram explicar a "aliança programática" entre a Rede e o PSB, mas sem dar maiores detalhes de como se dará a campanha "contra a falsa polarização entre PT e PSDB".
Se depender dos rumos erráticos do PSDB, parece mesmo que esta polarização já acabou, e a disputa se dará entre o PT e seus antigos aliados, que entraram na disputa com a corda toda. De qualquer forma, só saberemos como será o novo desenho do quadro eleitoral após a divulgação das próximas pesquisas, com os muitos cenários possíveis. Por enquanto, só há uma certeza: a única chapa definida é a de Dilma Rousseff para presidente com Michel Temer para vice.
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