Quem me chamou a atenção foi o leitor Vitorio Pasqual Soldano, em carta sob o título "Buraco negro", publicada no Estadão desta segunda-feira:
"O noticiário nos dá a conhecer a fraude na Prefeitura. Mas a conta não fecha. Foram desviados, segundo o Ministério Público, cerca de R$ 500 milhões e apurado patrimônio usurpado pelos diligentes funcionários de apenas R$ 80 milhões. Onde está o restante do roubo, a bagatela de R$ 420 milhões? Haja envolvidos! Quem são? Por favor, façam uso da delação premiada".
Hoje, o prefeito Fernando Haddad, em entrevista à rádio Estadão, disse que espera recuperar pelo menos parte do dinheiro desviado pelos fiscais denunciados, ou seja, os R$ 80 milhões em patrimônio imobiliário e outros bens que estão bloqueados, mas fica faltando o resto.
O leitor tem toda razão ao desconfiar que haja mais gente envolvida nesta história. Afinal, o esquema movimentou tanto dinheiro, e por tanto tempo, que seria impossível não vazar para cima e para baixo na hierarquia municipal.
O próprio prefeito acredita que o buraco negro é muito maior e que haverá mais novidades. Outros 16 processos já foram instaurados pela Controladoria Geral do Município, envolvendo outro tanto de funcionários, e cerca de 15 empresas deverão ser convocadas para explicar o pagamento das propinas e acertar suas contas com a Prefeitura. "Não é porque foi chantageado que está isento de pagar os tributos", explicou Haddad. "Temos que avançar nas investigações, dando às construtoras e incorporadoras a oportunidade de se manter quites com o tesouro municipal".
Em entrevista coletiva, o prefeito afirmou que mais de 200 funcionários de todas as secretarias municipais já passaram por investigação da Corregedoria. Por falta de provas, a maioria dos processos foi arquivada, mas agora poderá sair das gavetas, como aconteceu com o caso dos fiscais do ISS e os processos envolvendo a Alstom.
Haddad também defendeu seu secretário de governo, Antônio Donato, cujo nome aparece numa das gravações, citado pela ex-amante de um dos fiscais, que o acusa de ter recebido dele R$ 200 mil para sua campanha em 2008. "Estão falando as coisas e nós temos que observar, mas com toda a cautela devida. Desde março, eu acompanho o trabalho do Donato e desde então as atitudes dele sugerem o contrário das gravações".
Pois é, só faltava uma ex-amante nesta história, que agora resolveu denunciar o esquema porque o auditor fiscal, que segundo as denúncias ganhava fortunas, só pagava R$ 700 por mês de pensão para os filhos que teve com ela, enquanto gastava R$ 10 mil por noite em hotel e vinhos finos. Com o dinheiro fácil escorrendo por suas mãos, o auditor Luis Alexandre Cardoso de Magalhães, que já foi solto depois de aceitar a delação premiada, conseguia, ao mesmo tempo, ser pródigo e ávaro. Daria um bom roteiro de novela sobre bipolaridade.
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