PML: NO BRASIL, DIREITA SÓ GANHA ESPAÇO NA MÍDIA
Paulo Moreira Leite comenta a ascensão de personagens como
Reinaldo Azevedo, Demétrio Magnoli e Rodrigo Constantino
nos meios de comunicação. "Quem estava no centro foi para a
direita. Quem estava à direita foi para a extrema-direita", diz ele.
Mas será que esse movimento traduz alguma tendência social?
"Nós não temos uma direita expressiva na vida real. Há muito
tempo ela não tem votos em eleições majoritárias e, mais recen-
temente, enfrenta dificuldades até para formar uma bancada ex-
pressiva na Câmara e Senado", aponta o jornalista
Reinaldo Azevedo, Demétrio Magnoli e Rodrigo Constantino
nos meios de comunicação. "Quem estava no centro foi para a
direita. Quem estava à direita foi para a extrema-direita", diz ele.
Mas será que esse movimento traduz alguma tendência social?
"Nós não temos uma direita expressiva na vida real. Há muito
tempo ela não tem votos em eleições majoritárias e, mais recen-
temente, enfrenta dificuldades até para formar uma bancada ex-
pressiva na Câmara e Senado", aponta o jornalista
4 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 06:50
247 - Em crise profunda no Brasil e na América Latina, a direita
e a extrema-direita só crescem em um segmento: os meios de
comunicação. É o que aponta o jornalista Paulo Moreira Leite,
colunista da revista Istoé. Leia abaixo:
e a extrema-direita só crescem em um segmento: os meios de
comunicação. É o que aponta o jornalista Paulo Moreira Leite,
colunista da revista Istoé. Leia abaixo:
Mudando para pior
Para conquistar leitores pela técnica de quem veio para confun-
dir e não para esclarecer, colunistas conservadores querem
apagar a distinção entre "direita" e "esquerda"
dir e não para esclarecer, colunistas conservadores querem
apagar a distinção entre "direita" e "esquerda"
Há algo estranho no jornalismo brasileiro. Enquanto a Igreja Cató-
lica nem esperou pela morte de Bento XVI para livrar-se dele, dando
espaço ao Papa Francisco, nossos jornais e revistas realizam um mo-
vimento ao contrário.
lica nem esperou pela morte de Bento XVI para livrar-se dele, dando
espaço ao Papa Francisco, nossos jornais e revistas realizam um mo-
vimento ao contrário.
Esse processo levou a contratação de Reinaldo Azevedo e Demétrio
Magnoli pela Folha de S. Paulo e ao lançamento, com pompas de livre-pensador, de Rodrigo Constantino pela VEJA. Preste atenção no que
você ouve no rádio, em quem aparece na TV. Quem estava no centro
foi para a direita. Quem estava à direita foi para a extrema-direita.
Nós não temos uma direita expressiva na vida real. Há muito tempo
ela não tem votos em eleições majoritárias e, mais recentemente,
enfrenta dificuldades até para formar uma bancada expressiva na
Câmara e Senado. Muita gente denuncia o PT porque aceita infiltra-
dos direitistas em seu palanque. Concordo que algumas companhias
são mesmo lamentáveis e expressam um eleitoralismo exagerado.
Magnoli pela Folha de S. Paulo e ao lançamento, com pompas de livre-pensador, de Rodrigo Constantino pela VEJA. Preste atenção no que
você ouve no rádio, em quem aparece na TV. Quem estava no centro
foi para a direita. Quem estava à direita foi para a extrema-direita.
Nós não temos uma direita expressiva na vida real. Há muito tempo
ela não tem votos em eleições majoritárias e, mais recentemente,
enfrenta dificuldades até para formar uma bancada expressiva na
Câmara e Senado. Muita gente denuncia o PT porque aceita infiltra-
dos direitistas em seu palanque. Concordo que algumas companhias
são mesmo lamentáveis e expressam um eleitoralismo exagerado.
Mas talvez se justifiquem por piedade. O DEM, último partido a mere-
cer essa definição, é uma legenda em extinção. Não compete para pre-
sidente, tem dificuldade para disputar governos estaduais e até em
rincões tradicionais mendiga aliança com antigos adversários para ten-
tar eleger um ou dois parlamentares pelo regime de coligação.
cer essa definição, é uma legenda em extinção. Não compete para pre-
sidente, tem dificuldade para disputar governos estaduais e até em
rincões tradicionais mendiga aliança com antigos adversários para ten-
tar eleger um ou dois parlamentares pelo regime de coligação.
Mas a direita dá o troco nos jornais e revistas.
Imagine que há uma década ou um pouco mais a Época tinha o soció-
logo Wanderley Guilherme dos Santos e a psicanalista Maria Rita Kehl
entre seus colunistas fixos. Humberto Eco fazia comentários internacio-
nais. Luiz Felipe de Alencastro era colunista fixo da VEJA. No mesmo
período, Franklin Martins foi o principal comentarista político da TV
Globo.
logo Wanderley Guilherme dos Santos e a psicanalista Maria Rita Kehl
entre seus colunistas fixos. Humberto Eco fazia comentários internacio-
nais. Luiz Felipe de Alencastro era colunista fixo da VEJA. No mesmo
período, Franklin Martins foi o principal comentarista político da TV
Globo.
O preocupante, nessa configuração à direita, é que ela representa um
passo fora da História.
passo fora da História.
O Brasil é um país com uma longa tradição de pensamento conserva-
dor. Foi apenas com a vitória de Lula em 2003 que se interrompeu uma sucessão histórica de governos à direita, raramente escolhidos em urna,
com mais frequência impostos pelas baionetas. Apenas Getúlio Vargas,
eleito em 1952, sem apoio do PCB, que lhe fez oposição até à morte,
pode ser considerado um candidato de esquerda. JK era um centrista perseguido pela direita, que não suportava seu modelo desenvolvimen-
tista. João Goulart chegou a presidência, mas foi eleito como vice, num
período em que se temia que um presidente com perfil como o dele
fosse capaz de vencer uma eleição mas seria emparedado antes da
posse.
dor. Foi apenas com a vitória de Lula em 2003 que se interrompeu uma sucessão histórica de governos à direita, raramente escolhidos em urna,
com mais frequência impostos pelas baionetas. Apenas Getúlio Vargas,
eleito em 1952, sem apoio do PCB, que lhe fez oposição até à morte,
pode ser considerado um candidato de esquerda. JK era um centrista perseguido pela direita, que não suportava seu modelo desenvolvimen-
tista. João Goulart chegou a presidência, mas foi eleito como vice, num
período em que se temia que um presidente com perfil como o dele
fosse capaz de vencer uma eleição mas seria emparedado antes da
posse.
Essa inclinação da imprensa à direita ocorreu num momento histórico
em
que o país dá uma inclinada evidente a esquerda. Pense nas três vitó-
rias consecutivas nas últimas campanhas presidenciais. Pense em
2014, quando a direita financeira foi recrutar uma antiga petista –
Marina Silva – para sonhar com alguma possibilidade de vitória ao lado
de Eduardo Campos, aliado histórico de Lula. Teremos uma campanha
decisiva e árdua mas não se engane.
em
que o país dá uma inclinada evidente a esquerda. Pense nas três vitó-
rias consecutivas nas últimas campanhas presidenciais. Pense em
2014, quando a direita financeira foi recrutar uma antiga petista –
Marina Silva – para sonhar com alguma possibilidade de vitória ao lado
de Eduardo Campos, aliado histórico de Lula. Teremos uma campanha
decisiva e árdua mas não se engane.
A direita não ousará dizer seu nome pois sabe que este é o caminho
mais seguro para uma nova derrota.
mais seguro para uma nova derrota.
Num movimento semelhante, é para conquistar leitores pela técnica
de
quem veio para confundir e não para esclarecer, que colunistas conser-
vadores também querem apagar a distinção entre “direita” e “esquer-
da”. Sabem o risco de assumir o que são, num país onde a direita
possui uma sólida tradição de autoritarismo, exclusão social e precon-
ceito contra os mais pobres – tudo aquilo que o brasileiro detesta e
não quer encontrar de novo à frente do governo.
de
quem veio para confundir e não para esclarecer, que colunistas conser-
vadores também querem apagar a distinção entre “direita” e “esquer-
da”. Sabem o risco de assumir o que são, num país onde a direita
possui uma sólida tradição de autoritarismo, exclusão social e precon-
ceito contra os mais pobres – tudo aquilo que o brasileiro detesta e
não quer encontrar de novo à frente do governo.
O elenco de colunistas conservadores realiza um movimento alinhado,
que deixa todos os veículos numa mesma posição política -- de costas
para o país, longe da visão de mundo da grande parte dos brasileiros.
Não estamos falando de ideologia, de esquerda ou de direita. Estamos
falando de medidas concretas de governo, de salário mínimo, bolsa-fa-
mília, proteção ao emprego. Compare os alvos permanentes de ataque
desses colunistas e comentadores com aquilo que a população mais
aprova e aprecia.
que deixa todos os veículos numa mesma posição política -- de costas
para o país, longe da visão de mundo da grande parte dos brasileiros.
Não estamos falando de ideologia, de esquerda ou de direita. Estamos
falando de medidas concretas de governo, de salário mínimo, bolsa-fa-
mília, proteção ao emprego. Compare os alvos permanentes de ataque
desses colunistas e comentadores com aquilo que a população mais
aprova e aprecia.
É tudo igual – com o sinal invertido. Pode dar certo? Pode ajudar nas
vendas? Pode ampliar seu público? Pode fazer aquilo que se espera de qualquer veículo, seja no papel, seja na internet, que é dialogar com
seu leitor?
vendas? Pode ampliar seu público? Pode fazer aquilo que se espera de qualquer veículo, seja no papel, seja na internet, que é dialogar com
seu leitor?
Jornais têm “pauta”, que reflete, com nuances e mediações, aquilo
que o proprietário considera assuntos mais relevantes. Também tem
“edição,” que sublinha e realça aquilo que o dono acha mais impor-
tante. Normalíssimo. Outras publicações, que não são dirigidas por
uma família, possuem conselhos que também definem uma linha edito-
rial a ser seguida pelos jornalistas.
que o proprietário considera assuntos mais relevantes. Também tem
“edição,” que sublinha e realça aquilo que o dono acha mais impor-
tante. Normalíssimo. Outras publicações, que não são dirigidas por
uma família, possuem conselhos que também definem uma linha edito-
rial a ser seguida pelos jornalistas.
Mas é nas colunas de opinião que se encontra a opinião do proprietário
– ou melhor, ali se encontra o painel de opiniões que se julga relevan-
te publicar.
– ou melhor, ali se encontra o painel de opiniões que se julga relevan-
te publicar.
Essa opção absoluta por um pensamento conservador tem várias consequências, a maioria nefastas.
Como se sabe, toda visão política anda de mãos dadas com analises econômicas e projeções de médio e longo prazo. A convivência em ares viciados costuma intoxicar o pensamento, diminui a capacidade crítica e estimula a arrogância intelectual, sendo um caminho fácil para erros e desastres.
A maioria dos grupos de comunicação do país quebrou as pernas durante
os anos 1990 em função da própria cegueira ideológica e até hoje paga
o preço de tamanho desastre. Têm dívidas imensas para saldar, que se transformaram em fardos gigantescos sobre seu negócio. Impagáveis, transformaram-se numa hemorragia permanente de recursos, além de
uma asfixia do mesmo tamanho sobre sua capacidade de investimento.
A origem dessa situação já foi bem diagnosticada. Durante o governo
FHC, os donos dos meios de comunicação – e colunistas mais influentes – investiram as reservas e toda capacidade de se endividar em dólar
porque acreditavam, de olhos fechados, no acerto da política econômica daquele período. Terminaram de pires na mão, posição em que a maioria
se encontra até hoje, ainda que nem todos enfrentem a mesma situação desesperada.
os anos 1990 em função da própria cegueira ideológica e até hoje paga
o preço de tamanho desastre. Têm dívidas imensas para saldar, que se transformaram em fardos gigantescos sobre seu negócio. Impagáveis, transformaram-se numa hemorragia permanente de recursos, além de
uma asfixia do mesmo tamanho sobre sua capacidade de investimento.
A origem dessa situação já foi bem diagnosticada. Durante o governo
FHC, os donos dos meios de comunicação – e colunistas mais influentes – investiram as reservas e toda capacidade de se endividar em dólar
porque acreditavam, de olhos fechados, no acerto da política econômica daquele período. Terminaram de pires na mão, posição em que a maioria
se encontra até hoje, ainda que nem todos enfrentem a mesma situação desesperada.
Também por razões ideológicas, pois o governo mudou mas o partido
das redações seguiu o mesmo, só que ainda mais dogmático e radical,
perdeu-se o bonde da história no governo Lula.
A partir de 2003, os mais pobres ganhavam renda, educação e dignidade –
e logo, mais interesse por informações. Enquanto isso, nossas empresas
de comunicação seguiram investindo na clientela de sempre, a classe
média alta, os ricos e os muito ricos. Convencidas por analises
totalmente equivocadas que enxergavam uma crise a cada 24 horas
e a tragédia final do governo nos próximos 30 dias, foram incapazes
de entender o que se movia pelos andares inferiores. Nunca
abandonaram a opção preferencial pelos bem estabelecidos, que levou
a investimentos de vulto na segmentação do mesmo mercado, muitas
vezes no mesmo bairro, e até na mesma família, com publicações por
gênero, por idade, por assunto, sabe-se lá o que mais.
Para o andar térreo, o maior esforço consistiu em jornais populares de
serviço, despolitizados, uma mistura de atendimento ao consumidor
com listas de benefícios de agencias do governo, a começar por
precatórios e aposentadorias.
Num país onde 70% do eleitorado apoia e admira Lula, sua força política
foi hostilizada de forma irresponsável, numa atitude politicamente
discutível, mas culturalmente arrogante e ruinosa como opção de
negócio. Alguns grupos só foram se dar conta de que o país havia
mudado quando Lula chegava ao último ano de seu governo. Pode?
das redações seguiu o mesmo, só que ainda mais dogmático e radical,
perdeu-se o bonde da história no governo Lula.
A partir de 2003, os mais pobres ganhavam renda, educação e dignidade –
e logo, mais interesse por informações. Enquanto isso, nossas empresas
de comunicação seguiram investindo na clientela de sempre, a classe
média alta, os ricos e os muito ricos. Convencidas por analises
totalmente equivocadas que enxergavam uma crise a cada 24 horas
e a tragédia final do governo nos próximos 30 dias, foram incapazes
de entender o que se movia pelos andares inferiores. Nunca
abandonaram a opção preferencial pelos bem estabelecidos, que levou
a investimentos de vulto na segmentação do mesmo mercado, muitas
vezes no mesmo bairro, e até na mesma família, com publicações por
gênero, por idade, por assunto, sabe-se lá o que mais.
Para o andar térreo, o maior esforço consistiu em jornais populares de
serviço, despolitizados, uma mistura de atendimento ao consumidor
com listas de benefícios de agencias do governo, a começar por
precatórios e aposentadorias.
Num país onde 70% do eleitorado apoia e admira Lula, sua força política
foi hostilizada de forma irresponsável, numa atitude politicamente
discutível, mas culturalmente arrogante e ruinosa como opção de
negócio. Alguns grupos só foram se dar conta de que o país havia
mudado quando Lula chegava ao último ano de seu governo. Pode?
E assim chegamos a 2013. Olhando para o próprio umbigo, nossos
jornais e revistas concluíram que precisam ficar um pouco mais à direita.
jornais e revistas concluíram que precisam ficar um pouco mais à direita.
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