quinta-feira, 3 de outubro de 2013

NASSIF: SERRA NÃO TEM IDÉIAS NEM LIDERANÇA


SERRA: A VOLTA DOS QUE NUNCA FORAM



Luis Nassif

O ex-governador José Serra não decidiu agora ficar no PSDB porque jamais foi sua intenção deixa-lo. Jamais trocaria um partido pronto e acabado, como o PSDB, por um partido acabado, como o PPS.

Para fazê-lo teria que dispor de liderança, propostas e capacidade de articulação que nunca fizeram parte de sua personalidade.

A exemplo de inúmeros políticos egressos da política estudantil pré-ditadura, e do próprio Partidão, o estilo de Serra sempre foi “aparelhista”, o de articular internamente na máquina partidária para conquistar espaço e poder, despendendo energia para dentro, em ações e dossiês contra quem ameaçasse sua liderança interna; ou em guerrilhas para fora, valendo-se do mesmo estilo.

Nunca foi um organizador ou formulador partidário.

No seu primeiro cargo público, de Secretário do Planejamento do governo Montoro, sua atuação mais expressiva foi colocar aliados nos principais cargos financeiros do Estado, além de controlar com mão de ferro compras públicas e listas de pagamento de precatórios. Valeu-lhe poder financeiro, para as campanhas eleitorais, e a imagem de pragmático e de técnico rigoroso com as contas públicas.

Mas Serra jamais confiou no próprio discernimento para atuar a céu aberto.

Sempre foi fundamentalmente inseguro em todos os passos que deu. Em quase todos eles, sempre precisou se escorar ou no comando de Fernando Henrique Cardoso, enquanto presidente da República, nos seus conselhos, como espécie de irmão mais velho em permanente litígio,  ou na sua influência, enquanto maior liderança do partido. Embora o próprio FHC padecesse do mesmo problema da indecisão e da dificuldade em prospectar cenários futuros.

Foi assim quando Fernando Collor convidou-o a assumir a Fazenda e FHC o Itamarati. Foram semanas de indecisão, de vontade de , mas sem saber avaliar as consequências futuras. A questão acabou sendo decidida por Mário Covas, que bateu na mesa impedindo a ida que teria sido desastrosa.

Esse episódio consolidou a imagem de “indeciso” que se pespegou no partido nos anos 90 – apesar da determinação de outras lideranças como Sérgio Motta e Mário Covas.

As indecisões prosseguiram durante toda sua carreira política.

No plano Real, escondeu-se nos grandes debates internos do governo FHC, inibido pelo maior conhecimento dos economistas do Real. Para jornalistas conhecidos manifestava-se contra a política cambial. Mas sempre em off. Internamente, sumia.
O “aparelhista” versus o líder político

Durante os anos 90, assim como no governo Montoro, tratou de colocar aliados em todos os cargos-chaves financeiros por onde passava. Colocou aliados no Banespa do governo Fleury, no grupo incumbido da privatização por Itamar Franco. E, depois, nos cargos-chave da privatização do governo FHC.

Essa eficiência aparelhista contrastava com a indecisão para definir sua carreira para fora do partido ou para levantar novas propostas. Sempre foi eficiente nas ações de bastidores e perdido nas ações voltadas para o exercício da politica.

Levou quase um mês para aceitar o convite para ser Ministro da Saúde de FHC. E colecionou indecisões nas vezes em que foi lançado pré-candidato a presidente.

Nunca foi de encarar situações de conflito. Desapareceu quando o senador ACM saiu do Senado atirando e, em diversas entrevistas, mostrando as ligações do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio com Serra.

Depois, já governador, escondeu-se no episódio das enchentes em São Paulo, na greve dos policiais civis e na crise de 2008 – a Abimaq  (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) precisou ameaçar piquete na porta do Palácio para ser recebido por ele.

Dentro do PSDB, conquistou espaço exclusivamente devido ao apoio de FHC e, principalmente, da velha mídia.

Quando o próprio FHC anunciou publicamente o apoio ao pré-candidato Aécio Neves, Serra retornou à dimensão real de sua influência no partido. Depois das últimas eleições, seu exército se limitava a um grupo reduzido de velhos políticos tendo em comum uma agressividade ilimitada contra adversários: Alberto Goldmann, Aloysio Nunes, Roberto Freire.
A falta de propostas

Tudo isso devido ao fato de Serra jamais ter desenvolvido um conjunto coerente de ideias. No governo FHC, imaginava-se que as teria e não poderia expô-las devido ao fato do presidente ter encampado as ideias dos economistas do Real.

Quando assumiu o protagonismo político, como prefeito e, depois, governador de São Paulo, percebeu-se que, na verdade, não possuía um corpo estruturado de ideias. Pelo contrário. Nos anos 90 e 2000 o país atravessou o mais profundo processo de transformações de sua sociedade, com a consolidação de temas relevantes, como gestão, inovação, políticas sociais, modelos de desenvolvimento. Serra não  assimilou nenhum dos temas e, eleito governador, fez uma gestão inodora.

Como liderança pública, limitou-se a manter o estilo em “off” anterior de reduzir toda discussão política à desqualificação do adversário.

Jamais poupou Aécio e tomou-se de raiva contra as novas lideranças que surgiam, como o governador de Pernambuco Eduardo Campos ou o prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Sua prática política limitava-se a ser “contra”: contra o PT, contra Malan, contra Paulo Renato, contra Aécio, contra Alckmin, contra Haddad, explorando jornalisticamente defeitos e vulnerabilidades dos adversários.
O fim da linha

Seu reino político terminou nas eleições de 2010, ao protagonizar aquela que foi provavelmente a mais pesada campanha da história, com uma mescla inédita de notícias falsas plantadas nos jornais e repercutidas nas redes sociais, copiando o estilo Tea Party da Foxnews norte-americana.

Terminadas as eleições, o poder de Serra resume-se às ligações com alguns veículos de comunicação.

Saiu candidato a prefeito de São Paulo por absoluta falta de alternativa.

Tentou espaço na Fundação Teotônio Vilela, do PSDB, e não conseguiu. Tentou cargo na cúpula do partido e lhe foi negado. Nas hostes aecistas, ninguém duvida de sua mão por trás de dossiês e campanhas contra Aécio. E, do lado de Serra, todos sabem que o chamado dossiê Amaury Jr foi uma reação de partidários de Aécio contra os ataques de Serra.

É detestado pela militância do PSDB não apenas em Minas Gerais, mas também em São Paulo.

Mas suportam-se mutuamente por razões pragmáticas: Serra sabe que não sobrevive sem o PSDB; e Aécio acha que, com Serra por perto, reduzem-se as chances de novos dossiês espalhados por veículos aliados.

Por esse perfil, jamais sairia do PSDB sem encontrar um partido pronto e acabado. Decidindo ficar, seu discurso para comemorar o “fico” foi o exercício recorrente do “anti”: fica para combater o inimigo, não para trazer ideias. E voltou sem ter ido e sem ter recebido nada em troca – a não ser palavras protocolares de apoio.

Mas conseguiu um feito. Deixa um legado de ódio, preconceitos e negativismo que hoje em dia se constituem no principal obstáculo para a oxigenação do PSDB.

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